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12 de outubro de 1492. Nesse dia, aportou-se nas Bahamas um navegador europeu que buscava o caminho marítimo para as Índias, dando a volta ao mundo. Foi o primeiro grande engano dos europeus em relação às Américas. Oito anos mais tarde, outro europeu, talvez também por engano, aqui veio parar. O primeiro, de glorioso descobridor, anos mais tarde, passou a terrível conquistador.
Esse italiano de Gênova que morreu em 1505, deixou aberta para a sangria européia uma artéria que jamais foi estancada. Ele próprio em 1495 abrigava a todos os nativos maiores de quatorze anos a pagar, a cada três meses, uma certa quantia em ouro. Quem não cumprisse o que fora determinado, teria as mãos amputadas “para sangrar até morrer”.
A partir de então se instituiu a escravidão propriamente dita e as penas por faltas iam de uma simples amputação do nariz até a decapitação. Sabe-se que os espanhóis mataram até 1542, apenas 50 anos após a descoberta da América, cerca de 8 milhões de silvícolas. Número de mortos somente comparado ao da primeira guerra mundial até a metade do século XX. Ao final, foram mais de 100 milhões de vidas o custo das conquistas européias por estas terras.
Curiosamente, junto com os conquistadores, veio a Igreja, numa ânsia desmedida de converter os poucos nativos que restaram ao cristianismo e, em nome de Deus, foram aplicadas outras duras penas. E seus templos foram revestidos com ouro e prata que jorravam dos aluviões latinos-americanos. Templos católicos foram erguidos sobre os alicerces dos templos Incas, destruídos pelos invasores. Neste mesmo período, por abra e graça da Igreja, criaram-se escolas que ensinavam pintura, escultura e diversas disciplinas, mesclando com a cultura americana a cultura européia. O que se seguiu foi um fenômeno sem precedentes na história: um povo inteiro, num estágio pré-colombiano de desenvolvimento, criando uma arte cristã-indígena que iria afetar toda a arte de um longo período.
Mesmo assim os índios  continuaram a ser dizimados pelos conquistadores. Passaram a ser vendidos e comprados em leilões, como mais tarde aconteceria com os negros africanos. Trabalhavam como escravos, retirando da terra o que lhes pertencia para a garganta escancarada do outro lado do mundo. Mães sacrificavam os filhos para não vê-los humilhados pela escravidão. Os nativos era escravizados porque seus pecados e idolatrias constituíam ofensa a Deus. Outros afirmavam que eram ascendentes de judeus, porque como aqueles, eram preguiçosos e não criam nos milagres de Jesus Cristo. Além de tudo, não eram gratos aos espanhóis por todo o bem que estes lhes fizeram.
Quando vemos hoje, através de livros escolares e de enciclopédias fotografias de nativos peruanos com seus trajes típicos, nem sequer imaginamos que aquelas vestimentas a eles foram impostas pelos espanhóis durante o período da colonização. O trabalho nas minas era exaustivo e os eles, para abrandar a fome e o sofrimento eterno, introduziram o uso da coca. A Igreja, não perdeu tempo, passou a cobrar impostos sobre o uso do entorpecente.
No Brasil, como sabemos, principalmente em Minas Gerais, a humilhação não foi menor. Transformaram as montanhas da região de Vila Rica, hoje Ouro Preto, em um imenso campo de mineração. Ali nada se plantava, apenas gretavam a terra em busca do ouro, o qual era despachado, mais uma vez,  com destino a Europa. Minas tem um coração de ouro pulsando num peito de pedra, teria dito, na época, um historiador. Observação apropriada, uma vez que foi Minas que arrastou o Brasil e Portugal por uma longo tempo. Além disso, deu o pescoço de uma de seus mais ilustres homens, às cordas portuguesas.             E assim, de exploradores em exploradores, fomos construindo nossa curta história. Hoje o Brasil, assim como quase todos os países da América Latina,  busca o desenvolvimento a todo custo, mas o desenvolvimento é uma viagem com mais náufragos que navegantes. Nesta busca incessante, nesta aventura que não tem hora nem ponto para terminar, alguns países se especializam em ganhar, outros em perder.   
Acostumamos tanto à exploração e com ela tanto aprendemos que passamos a explorar até uns aos outros aqui mesmo. Esquecemos que nossa riqueza gerou a riqueza de outros e nossa amarga pobreza.
Enquanto nossa pobreza não for ameaça aos países ricos, o que ainda permanecerá durante décadas, a pobreza não será motivo de observação atenta, nem de risco de destruição do planeta. Aprendemos a conviver com o mundo dividido, humilhantemente, em dois terços pobres e um terço rico.
Disse certa feita um observador estrangeiro que a história das América latina  é lenta. Mais lenta que nossa história, podemos afirmar, é o sofrimento de nosso povo.

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