Somos essencialmente o que escrevemos
4 de junho de 2016
Nova era novo homem
4 de junho de 2016
A língua portuguesa, sem dúvida alguma, é uma das mais ricas do mundo. Mais rica e mais complacente, pois aceita com uma generosidade quase materna os novos falares, os estrangeirismos, as invencionices e achaques populares. No entanto, nenhuma estrutura “forçou tanto a barra” nos últimos tempos para se instalar no seio de nosso mais importante tesouro quanto a expressão estar ando, endo, indo e ondo. Ela por si só já é uma agressividade aos ouvidos de quem tem um mínimo conhecimento da língua portuguesa, contudo o que mais nos tem assustado é quanto a quem a apregoa aos quatro ventos. Normalmente são pessoas com um certo padrão de escolaridade e envolvidos principalmente com a educação. Esta gente que deveria estar ajudando a levar aos jovens estudantes o que é certo em se tratando de expressão oral, pode estar causando um dano irreparável aos nossos jovens alunos.
“Estou aqui para estar avisando”, “Vocês deveriam estar prestando atenção”, “Amanhã vocês vão estar fazendo uma avaliação” são apenas algumas das preciosas jóias que ouvimos freqüentemente e por certo vamos estar ouvindo ainda por muito tempo. É lastimável como uma praga desta natureza – que não encontra nenhuma sustentação em nossa gramática - pode estar se espalhando como uma erva daninha. Será que esta gente desavisada pode estar pensando que estar falando desta forma é estar sendo chique? Se esta é a verdade, que pena!
Dizem os entendidos que esta novidade surgida há poucos anos teve origem no present continuous tense. Parece que veio com os manuais de telemarketing. Basta você estar ligando para uma destas empresas para estar ouvindo sobre o que você poderá estar comprando e até a maneira de você estar pagando. Se não fechar negócio, você poderá estar dizendo à pessoa, a qual acreditou não o estar importunando que ela deveria estar ligando e estar dizendo tamanha besteira para a sua m... Deixe para lá. Isto pode estar logo se tornando muito desagradável. Falta de educação é coisa feia! Falta de conhecimento não... mas deveria ser!  
“O senhor poderia estar esperando que eu vou estar transferindo para o senhor estar sendo atendido.” Esta frase ouvi há poucos dias de uma atendente numa destas empresas de cartões de crédito. Dizem que foram elas que inventaram esta nova maneira de estar falando. Nunca imaginei que esta gente pudesse estar tendo tamanho poder. Camões por certo não conseguiu tanto!
Triste maneira de o tempo futuro estar sendo expresso. Precisamos estar tomando cuidado, pois nossos alunos podem estar já se familiarizando com esta forma original de estar se referindo ao que vem pela frente. Se o tempo vindouro destes jovens, daqui a dez, quinze anos, estiver sendo tão brilhando quanto esta expressão inovadora; pobres coitados!
Quanto a este texto em si, você pode estar tirando fotocópias dele, pode estar escaneando e pode ainda estar enviando via e.mail para os amigos. Assim, caro leitor, pode estar fazendo um grande favor à nossa já tão ultrajada língua portuguesa e vai estar colaborando para que menos ouvidos sensíveis possam estar sendo feridos.

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